10/01/2018
Para quem pensa que o tema é pouco ou nada jurídico, lembramos que a questão envolve o principal elemento presente na construção e exegese das leis, nas grandes e pequenas empresas e é o motivo pelo qual as relações, costumes, condutas e valores mudam a todo tempo e a cada era: pessoas. Vamos falar de pessoas!
A humanidade é marcada por históricos de segregações de várias naturezas, cor, credo, gênero, nacionalidade, classe social, dentre outras. Com o tempo foram criados mecanismos de combate às desigualdades e de fomento à inclusão social.
No entanto, é forçoso afirmar que o que se aplica hoje é o que de fato se espera de uma sociedade sem preconceitos.
O ambiente corporativo como amostra satisfatória da sociedade reflete os valores nela praticados com o agravante da profissionalização, hierarquia, divisão de cargos e remuneração.
O preconceito atual no ambiente corporativo em sua grande maioria (em regra) não mais proíbe ou restringe acessos, não é verbalizado e não se prega nas redes sociais, porém, dificulta, inibe, constrange e pode estar disfarçado nas decisões e nos critérios de contratação e progressão.
Podemos dizer que a busca pelo maior rendimento, pelo lucro e pelo capital cresceram na mesma medida em que nos tornamos a geração com maior incidência de depressão e suicídio, o que dirá em relação àqueles que não se sentem parte do ambiente corporativo.
Tal contexto denota uma realidade desequilibrada. Como o desenvolvimento humano vem sendo deixado de lado, este deve ser retomado às pressas para que essas minorias possam ser inseridas nos mais variados mercados de trabalho existentes.
Como exemplo de situação propícia para mencionarmos, o Guia da mulher valorosa de 1950[1] ainda é tão atual como foi à época pois dignifica a mulher e sua participação na sociedade. Contudo, a experiência prática tem mostrado que a inclusão e igualdade da mulher no mercado de trabalho continua destoante do trato dado aos homens na medida em que ainda há diferença de remuneração entre ambos os sexos, e principalmente por não existirem políticas inclusivas para mulheres em cargos de direção, assim como por existirem políticas de progressão pouco claras.
Uma sociedade na qual muito se fala, mas pouco se faz para a criação de oportunidades às minorias que há dezenas de anos sofrem por sua condição, situação, opção e assim por diante. Ações afirmativas no ambiente corporativo ainda são tímidas.
No contexto acima não fazer nada para que as minorias (mesmo mulheres, negros e homoafetivos não sendo minorias) sejam além de inseridas, respeitadas e valorizadas no ambiente de trabalho é o mesmo que colaborar para que esse quadro continue estático e que diariamente peculiaridades físicas, de gênero ou sexual sejam utilizadas como critérios profissionais.
A diversidade é inerente ao ser humano, o ambiente profissional misto, formado por pessoas diferentes é comprovadamente mais saudável e mais propenso ao desenvolvimento pessoal, humano e do grupo, sendo que pouco importa precisar em que momento ou sob a influência de quais premissas que foram esquecidas, o que nos cabe é além de lembrá-las, fomentá-las.
A lição que fica é permitir que o outro seja o outro no ambiente corporativo e que mesmo sem similitude sejamos valorizados por nossas especificidades.
[1] http://www.oarquivo.com.br/variedades/curiosidades/4041-guia-da-boa-esposa-de-1950.html
Letícia Bartolomeu Peruchi